EDITORIAL:

Quem acompanha o blog há de ter percebido que não mais tenho escrito/postado nada no TM. Não foi por escolha, nem por falta de tempo, muito menos por descaso. Não deixei o TM de lado, nada disso. Muito pelo contrario: cheguei a pensar tantas e tantas coisas que eu gostaria de abordar aqui que entrei em conflito comigo mesmo. Temas de assuntos brotavam naturalmente, mas o que me falta (faltava) era o entusiasmo para dar continuidade. Cheguei a conclusão que a minha falta de vontade de ao menos começar a escrever se dava ao fato de minhas idéias irem de encontro com a realidade que brota aos nossos olhos humanos. Me vi afastado da realidade por culpa de minhas ideias.

Num passado não muito distante, achava eu que o mundo era uma terra de ninguém. Tinha absoluta certeza que não havia nada alem de nós aqui e por esse motivo, viveríamos para sempre entre sentimentos humanos corriqueiros como raiva, ódio, etc. que acabam muitas vezes por desembocar em ações brutas, animalescas, em pura violência. Via um mundo como representação de sentimentos humanos egoístas.

Com mais um pouco de avançar de tempo, confirmei que o mundo como é hoje não passa de uma representação mas não uma representação generalizada, afinal somos governados por pouquissimos homens em comparação com os 6 bilhões de habitantes do planeta. O mundo violento cruel onde me encontrava era uma representação de governantes... Uma representação mórbida de um mundo forjada por uma classe de homens que se acham melhores que a grande maioria simplesmente por terem mais dinheiro, mais bens, mais riquezas.

Quando me dei conta desse fato, comecei a me perguntar qual a minha parcela de culpa de o mundo se encontrar tão fora de ordem. Busquei inúmeras explicações, e a mais coesa e tocante que consegui chegar foi: "a minha parcela de culpa, e também da maioria dos brasileiros, consiste em não entender de política". Foi a época que me interessei pelo Direito, pois é de lá que surgem as leis que regem e mantém o país funcionando, ainda que precariamente. Nos primeiros anos de faculdade aprendi como tudo começou, as primeiras tribos de legisladores, as primeiras nações de legisladores - destas, o Império Romano se destaca como a nação mais desenvolvida, ao ponto de influenciar as estruturas de nosso país mais de 2000 anos depois.

Quando eu caminhava para o fim da faculdade ainda acreditava que o melhor sistema de governo era a democracia; acreditava que a diminuição da ignorância política serviria para impulsionar um avanço agudo no desenvolvimento social de nosso país; acreditava que existia divisão entre os 3 poderes; acreditava que a fama de corruptos era apenas um modo de mandar os políticos trabalharem melhor; acreditava que não existia interferência entre as esferas de governo, nem nas esferas dos tribunais; acreditava que o problema da violência se resumia apenas ao fato das vendas de drogas; acreditava que a polícia era "do bem" e os bandidos "do mal"; acreditava que, mudando a parte de cima da pirâmide social, todo o resto se acomodaria de uma forma mais harmonica, mais equilibrada, mais humana.

Enquanto continuava minha caminhada em busca de mais conhecimento "acadêmico" que levasse a continuas diminuições dos abismos sociais, me interessei por História e por Filosofia. Deixei a parte atual, a teoria moderna, para voltar no tempo e tentar entender as raizes da maldade que deixou o mundo com essa cara ameaçadora. Não demorei para achar várias respostas para minhas perguntas. Analisando criticamente a Historia e absorvendo os principais conceitos da Filosofia, cheguei ao fim da faculdade totalmente averso ao Direito, aos Sistemas de Governo - qualquer que fosse - e a Sociedade como um todo. Vejam bem, não era ódio ou raiva e sim aversão, não me sentia parte da coletividade, não mais me sentia um ser com direitos e obrigações.

Terminei a faculdade esse ano. Meu ultimo ano de estudo, me ensinou mais de que os 4 anos iniciais. Aprendi que o mundo sempre foi desse jeito amendrontador; aprendi que a ganância do homem não apareceu junto com o capitalismo - esse já é produto daquele; Aprendi que não existe divisão de Poderes; aprendi que o Executivo paga para o Legislativo legislar em seu favor assim como também paga para o Judiciário julgar a seu favor; aprendi que individuo não tem voz perante as Organizações Financeiras; aprendi que a vida do ser humano foi transformada em mero objeto de mão de obra para financiar quem está no poder, independente do tamanho do salário ou do status social que o individuo ocupe.

Aprendi que a falta de investimento em Educação, Saúde e Cultura é uma decisão estratégica para manter o povo quieto; aprendi que não existe diferença entre políticos e grandes empresários: ambos iludem, sugam e mentem para continuar no poder; aprendi que o problema da violência só será resolvido quando a corrupção e a desigualdade social acabar, ou seja, nunca enquanto o mundo for como é. Aprendi que não existe diferença entre polícia e bandido, afinal ambos apenas defendem interesses próprios. E por fim, aprendi a lição mais dolorosa: esses não são males só de nosso país, mas do mundo todo. Cada país estrangeiro foi idealizado não para proteger e desenvolver seus cidadãos, mais sim, sugar sua força de trabalho e os recursos naturais da terra para manter o poder. Aprendi que quanto mais "rico" um país, mais "pobres" são sacrificados para manter a riqueza.

Sociedade, Familia, Escola, Governos, Religiões... Tudo havia sido corrompido pela maldade milenar do homem. Os pensadores e filósofos, tanto laicos quanto cristãos, até que tentaram alertar o homem do buraco onde estavam se metendo, mas suas escrituras foram deturpadas para serem usadas como objetos de controle social e arrecadação de verbas para Instituições tão corruptas quanto os governos. Não importa em que parte do planeta você estiver, sob qual sistema de governo você vive, muito menos qual religião você segue: seja na China, no Brasil, no Sudão ou nos EUA, o que sempre importou foi o Poder.

Me vi preso a um ciclo de idéias. Antes achava que o mundo não tinha salvação; depois achei que com o regramento jurídico as coisas poderiam ser melhoradas; com o estudo do regramento jurídico vi que nada poderia ser mudado e voltei a pensar que o mundo não tinha salvação e novamente entrei em conflito comigo mesmo procurando um sentido para minha existência.

Se estamos embebidos nesse meio corrosivo, onde a moral e a ética das pessoas são facilmente moldadas por valores vazios sem que se perceba, porque eu estou preocupado com o mundo? Porque eu estou preocupado com o outro? Porque estou preocupado enquanto milhões apenas se preocupam com seu próprio umbigo? Não me perguntei isso por muito tempo. Joguei tudo pro alto e esqueci do mundo e seus problemas. Me dei por entregue, apesar de sempre estar pensando e escrevendo sobre coisas que, ao meu ver, melhorariam meu redor. Me sentia que estava dando murro em ponta de faca e minha vontade de pensar sobre o mundo foi se esvaindo... Fui aceitando tudo como é. Fui desistindo de questionar como fazia antes.

Foi-se assim até o mês passado. Quem elaborou o editorial do mês de outubro foi meu irmão. Eu estava atarefado com meu trabalho de conclusão de curso, mas poderia ter tirado um tempinho pra escrever algumas linhas mas não o fiz. Não sentia vontade. Não via mais utilidade em escrever sobre coisas que todos viam estarem erradas mas ninguém podia fazer nada para mudar o rumo da coisa. Nao via mais sentido em escrever sobre políticos, sobre cultura que aliena, sobre a violência. Sentia como se algo me dissesse que eu estava no caminho errado. E eu estava. Eu pregava uma mudança inversa, de cima pra baixo. Os homens do poder deveriam dar o exemplo aos homens "comuns". Eu estava errado, estava indo de encontro a lógica.

Precisou que um fato extremamente pessoal acontecesse comigo para que eu parasse mais uma vez e repensasse tudo novamente... Dessa vez com mais cuidado, tentando achar o que eu havia deixado escapar... E por mais que eu procurasse, mais me via longe de achar a resposta e uma angustia grande foi tomando conta de mim. Até o dia que, como uma iluminação divina, aquele pensamento surge do nada e repentinamente em minha mente tudo fica claro: era a falta de amor que tinha deixado o mundo destruído dessa forma como nos acostumamos a vê-lo. Pra que lutar por melhoras em leis se a falta de amor fará com que as novas leis não sirvam pra nada? Melhoras no sistema eleitoral? Pra que se falta amor e sobra sentimentos negativos - ganância, soberba, inveja, etc, etc? Não adianta se ter o melhor sistema de governo, a melhor distribuição de renda do mundo, o menor índice de violência do mundo ou o melhor sistema de ensino do mundo se ninguém consegue ter amor puro no coração... Não adianta perdemos nosso tempo tentando resolver questões de uma cidade que envolvem o destino de milhares de pessoas se não conseguimos apaziguar nossa própria casa. Como podemos tomar decisões sem saber o que é amar, respeitar, entender, nossas namoradas, esposas, filhos, pais, irmãos, tios, avós, etc... Não nos esforçamos nem pra entender nós mesmo! Não adianta tentar mudar o mundo sem mudarmos nos mesmos antes. E nós só mudamos quando aceitamos que existe algo acima de nós. Só mudamos quando deixamos de nos achar as peças principais e passamos a obedecer a ordem natural das coisas a buscar dia após dia, hora após hora, ter pensamentos nobres, livres de maldade, de raiva, de ódio, de ofensas...

Mudaremos quando aprendermos a olhar para nós mesmo e analisarmos nossos próprios atos. Demorei muito tempo pra perceber isso mas sei que nunca é tarde pra deixar o amor entrar em nós, mudar nossa vida e consequentemente mudar o mundo. Quando formos pessoas amorosas, harmônicas entre si, o mundo será uma lar de verdade e não esse inferno fantasiado de civilização. Depois que entendi verdadeiramente que primeiro devemos aprimorar nossa alma para só então agir, entendi o significado do amor pelo próximo. Entendi o que significa "deus".

Depois que deixei de tentar apontar soluções para problemas que não podem ser resolvidos pela lógica, minha vontade de escrever voltou. Hoje não cobrarei mais de quem está por cima. Cobrarei primeiro de mim e só de mim a mudança e o amor necessário para que o mundo fique um pouco mais acolhedor. Cobrarei de mim o respeito, o amor, a confiança necessária para se ter laços humanos com o próximo e, consequentemente, com a coletividade. Será que ainda dá tempo?

Novembro, 2009.

Walter Jr
Editor-chefe

Comentários

JOSIVALDO RAMOS disse…
Amigo e admirável Walter Jr.,

De fato senti a sua ausência, não só pelas sábias postagens no TM, mas de sua participação nas Comunidades do Orkut e através de comentários em outros Blogs, inclusive no meu. És, junto ao teu irmão, Wenndel, um belo exemplo para nossa juventude palmarina, jovens comprometidos com nossa cidade, espontaneamente e sem qualquer interesse próprio (Assim os vejo, é minha opinião). Motivo pelo qual a ausência de qualquer de vocês nos deixa uma enorme lacuna. Seja bem vindo novamente! Forte e cordial abraço do admirador JOSIVALDO RAMOS
Wenndell Amaral disse…
Concordo com o Josivaldo, faz falta mesmo. Quanto mais ideias, participação e ativismo melhor pra nós mesmos e para os outros.
Mariana Vital disse…
As vezes é preciso acontecer algo que nos ajude ou prejudique de verdade para entendermos o que estava ali na nossa cara o tempo todo. Há tempo sim. Falta comida, moradia, saúde falta tudo, mas o principal é o amor pelo próximo, mas, antes de sermos capazes de amar o próximo devemos amar a nós mesmo, amar e preservar nossa máteria e seu espírito. Quando vc for capaz de cuidar desse conjunto aí sim vc automaticamente já estará mudando o mundo ao seu redor, consequentemente muda o "mundo" de outras pessoas. Antes de ser guerreiro de grandes batalhas temos que ganhar experiência com as pequenas.
Walter Jr. disse…
Muito obrigado a todos por fazerem parte de meu mundo, cada um de sua maneira peculiar. Dessa vez não vou demorar tanto pra escrever!