Dizem os sábios antigos que Deus escreve certo por linhas tortas. Portanto, não me abati com o revés temporário. Se o texto havia sumido, e eu irresponsavelmente não tinha uma cópia de segurança, era porque não devia ser publicado. Talvez ele estivesse lógico para mim e não para vocês nobres leitores; talvez os assuntos abordados não interessassem a maioria ou simplesmente o mesmo poderia se encontrar demasiado longo, prolixo... Bem, de qualquer forma, busquei o lado bom da coisa. Com o esquema que havia sobrado na minha cachola, vos escrevo o que o texto tinha de cerne (ou ao menos deveria ter):
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Fiquei me devendo um texto sobre as enchentes ocorridas ano passado. E me cobrava demais sobre isso. Infortunadamente esse foi o único assunto até agora na minha curta existência sobre o qual eu não consegui escrever. As palavras simplesmente não saiam. Nada brotava. Elaborava alguns rascunhos, mas não saia daquele estado meio catatônico que eu me encontrava. Para mim, foi algo absurdo, surreal. Foi algo que, levando em conta os bastidores políticos, sociais, econômicos e geográficos não dá pra resumir sem pesquisar muito. E tal fato me deixou até hoje, sem palavras para comentá-lo. O impacto visual de uma verdadeira prova de força extravagante da Natureza causou um bloqueio: os rascunhos que eu elaborara estavam sempre incompletos. Ora eu buscava abordar as possíveis causas “técnicas” da tragédia; ora eu colocava toda minha empatia em prol das pessoas que sentiram diretamente a presença do caos... Não soube dosar o texto e desisti de fazê-lo. Guardei no quarto esfumaçado e torpe das lembranças as imagens das ruas enlameadas, as faces chorosas, as casas destruídas, as lágrimas deslizantes que umedeciam os olhos de incredulidade que fitavam o rio da águas marrom com tanto pesar... Mil compêndios elaborados pelos mais elevados cientistas, escritos pelos mais observadores poetas ou descritos pelos pensadores dominadores das mais variadas técnicas, não conseguiriam atingir a verdade daquela destruição. Então o que eu teria a dizer?
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Logo após vieram as eleições! De um lado um tucano [Serra] contra uma petista [Dilma]. Coloquei-os na balança de "menos ruim". Votei em Dilma. E, para variar, me arrependi. Mas se eu tivesse votado em Serra, com certeza estaria mais arrependido ainda. Independente de quem assumisse a presidência, empacaria nos ritos funestos de bastidores que desarticulam a independência entre os 3 Poderes, nas imposições da ONU e nos ditames do modelo capitalista que gere a economia de praticamente todos os países, inclusive dos “comunistas”. Resumindo: nada mudou. Se para melhor ou pior, isso sempre será relativo. Sempre dependerá do ponto de vista e, utilizando de mais uma frase brega “só o tempo irá dizer”...
No âmbito estadual e municipal as coisas continuam um mais do mesmo elevado ao quadrado. Não queimo mais nenhum neurônio meu com isso. Continuarei observando e elaborando minhas soluções pessoais, mas não darei mais a cara para bater, afinal, não há eficácia. Existem algumas coisas que nunca mudam senão por caminhos drásticos e extremos. Alagoas continua a mesma: falta de investimento em educação, em saúde, segurança, etc. assim como a maioria das cidades brasileiras e nenhuma mudança que não seja no nível individual, no modus operandi de cada indivíduo que compõe a nossa sociedade que seja refletida no todo, surtirá efeito. Os candidatos da situação pularam de alegria com as enchentes, uma vez que choveram milhões de reais oriundos de empréstimos compulsórios do governo federal; e todo mundo sabe pra onde foi parar a maioria desse dinheiro... A cidade em que vivo continua abrigando pessoas individualistas, de egos inflados, visões distorcidas pelo poder, pelo dinheiro... Não há política que mude isso, ou melhor, a política alimenta esse modo de vida vazio e esse modo de vida vazio alimenta a política... Um ciclo sem fim que se fortalece a cada dia e que está longe de findar.
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Natal. Reveillon. Datas comemorativas de extrema importância para o mundo ocidental. Pelo menos no tocante ao din-din. O que antes era reconhecido pela religiosidade, pela essência espiritual, hoje é reconhecido pelo consumismo. Natal =presentes e reveillon = a festa. Que fique claro que eu não tenho nada contra quem dá ou recebe presentes no natal, muito menos contra quem enche a cara no reveillon. Eu participo desse teatro também, sou mortal e errante. O que não se pode é restringir nossa percepção do que é certo ou errado baseando-se sempre no conhecimento empírico e imparcial que se pode ter sobre determinado assunto, no caso, a banalização de datas comemorativas que norteiam a Civilização [independentemente do País] há séculos. Os dois lados da moeda devem ser considerados: reflexões e atitudes condizentes a essência de cada feriado mundial deveriam ser melhor direcionadas. Ao passo que gastamos todo o décimo terceiro com mimos [na maioria das vezes supérfluos] com nossos parentes, amigos e afins, poderíamos doar um pouco de atenção a alguma instituição carente... Não há necessidade de contrapartida financeira. Alguns minutos ouvindo alguém que não conhecemos e que se encontra num asilo, necessitando de atenção bastaria seria um bom exemplo; doar uma simples refeição a quem tem fome também faria diferença assim como comungar com quem está a nosso redor nosso conhecimento, nossa visão de mundo, ajudaria uns e outros. Enfim, nada impede que sejamos pessoas menos egoístas/individualistas enquanto também aproveitamos e curtimos a vida, sempre com a responsabilidade de não interferir negativamente na vida alheia. É o que tento fazer aqui no TM: transmitir as melhores percepções e idéias para o maior número de pessoas possível, sem receber nada em troca a não ser a leitura e entendimento de vocês. Porque nunca conseguimos colocar em prática nossas promessas de fim de ano?! Cadê o amor, a paz, a saúde, o dinheiro que desejamos para nós e para quem nos rodeia?! Enquanto não entrarmos em equilíbrio com nosso eu, o mundo não entrara em equilíbrio e viveremos sempre assim: remediando e irremediável...
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Água. Fogo. Terra. Ar. Enquanto olhamos para nosso próprio umbigo e apontamos os defeitos e problemas que assombram nosso país, estado e cidade, a natureza, utilizando-se de seus elementos básicos derrama sua fúria sobre nós, perpetradores de seu equilíbrio. Dezenas de vulcões voltaram “à vida” em diversos lugares do globo, temperaturas insuportáveis foram registradas nos termômetros de todo o mundo. E as enchentes não foram uma “dádiva” só para nós nordestinos; a região sudeste também sentiu na pela a ira dos deuses: no Rio de Janeiro deslizamentos mataram centenas de pessoas e destruíram cidades, incluindo a histórica Petrópolis; Santa Catarina, Curitiba e Rio Grande do Sul também registraram perdas, assim como São Paulo (ontem a cidade estava literalmente debaixo d´água)... O avanço do mar foi notório em alguns locais de nosso litoral assim como diversas erosões em nossas montanhas, serras e afins.
Como se não bastasse as investidas da mãe natureza, a situação geopolítica do mundo está cada vez mais complicada. 2011 começou com os países denominados “ricos” em apuros financeiros: os EUA observaram atônitos o desaparecimento de milhões de vagas de emprego nos 3 setores da economia enquanto observavam o dólar ser desvalorizado dia após dia assim como a “Guerra ao Terror” só despende mais e mais gastos sem nenhum sinal de estabilidade no Oriente Médio ser lançado; assim como os países mais desenvolvidos da Europa presenciaram suas economias empacarem, o preço do euro despencar e os investimentos sumirem sem falar nos gastos bélicos já que a Europa também financia as guerras... Em contrapartida os países emergentes [Brasil, China, Índia, Tigres Asiáticos] presenciaram um crescimento monumental de investimento já que os investidores estrangeiros lucram muito mais pagando mão-de-obra do Terceiro Mundo e revendendo mercadorias a lucros altíssimos em qualquer lugar do planeta. Esse crescimento dos países emergentes começa a despertar de vez a atenção dos “donos do mundo” [multinacionais protegidas pelas políticas protecionistas tanto norte-americana quanto européia]: EUA investiu e ganhou os governos Chileno, Colombiano, Paraguaio... Venezuela, Equador e Bolívia são países que não permitem interferências e o nosso Brasil continua sempre em cima do muro...
Todo esse mosaico de situações políticas, econômicas, sociais e geográficas, culminaram nas Revoluções que hoje assistimos na TV: Iêmen, Líbia, Egito, Omã, e outras nações árabes-mulçumanas que viveram 30, 40 anos sob o domínio de ditadores se rebelaram patrocinadas pelos EUA uma vez que esses ditadores não estavam “controlando o terrorismo” em seus territórios... Pois é, a Guerra Fria voltou desestabilizando governos e executando golpes de Estados em busca de riquezas naturais que possam suprir o modo de vida norte-americano...
2011 será o ano em que tudo começará a sair do controle. E a “bonança” que vivemos hoje irá acabar junto com a falência das grandes potências que hoje, mais do que nunca, sugam todos os recursos possíveis dos países emergentes. Mas continuemos nossas vidas. Continuemos fingindo que o “mundo ninguém fez”... Continuemos crendo que não temos nada haver com nada disso. Afinal, meu mundo particular é muito mais importante que o mundo natural que nos concedeu a vida. Voltamos para o início do ciclo: destruir para reconstruir um mundo do nada. Preparem-se psicologicamente e fisicamente. A situação tende a se agravar, pois uma hora nós teremos que escolher que caminho seguir e o Brasil do jeito que está alienado, sem identidade nacional própria, com o povo embriagado pelo american way of life, será um alvo fácil. Infelizmente ou felizmente, chega uma hora que temos que finalizar aquilo que não está mais funcionando para que, com as experiências adquiridas, possamos novamente recomeçar. A humanidade hoje, pode ser comparada com uma flor-de-lótus: nasce no meio dos mais fétidos pântanos porém é a mais linda flor já vista. Feliz 2011.
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“Já estou cheio de me sentir vazio. Meu corpo é quente, estou sentindo frio. Todo mundo sabe, ninguém quer mais saber afinal amar ao próximo é tão démodé... E essa justiça desafinada é tão humana e tão errada! Nós assistimos televisão também... Qual é a diferença?! Não estatize meus sentimentos, pro seu governo, meu Estado é independente...” Baader Meinhof Blues - Legião Urbana
Fevereiro, 2011.
PS.: A frase de Roberto Carlos que abre a matéria foi necessária posto que, na maioria das vezes, penso tanto que um labirinto de ideias se forma na minha mente e consequentemente, começo a achar que as palavras não são o bastante para explicitá-las...
PS2.:O editorial de março já está na agulha... Depois do carnaval publico. E dessa vez serei mais cuidadoso para não perder... Abraço a todos.
Walter A.
contato: @walter_amaral [twitter] ou wjr_stoner@hotmail.com
Comentários
Muito bom o editoral! Parabéns, a vida de militar não te tirou isso.