Uma longa inspiração, foi o que me veio à cabeça depois que The King of Limbs, álbum novo do Radiohead, chegou ao fim. Cada faixa pede atenção e cumplicidade. Você não vai entender nada se ouvir o disco enquanto pega um ônibus ou lê um livro - o “Radiohead Experience” exige exclusividade.
Falar do álbum música a música não faria tanto sentido, já que a obra tem uma característica tão linear. Os sons sintetizados sobrepõem-se a tudo, em oposição às guitarras e timbres mais "vintage" do álbum anterior, In Rainbows (2007). Em The King of Limbs há muitas dobras de voz com guitarra e sinths, harmonias quase estáticas e pouquíssimos acordes. Quando as guitarras e a bateria aparecem mais nitidamente é quase como se reproduzissem a função dos samplers (a exemplo da faixa "Morning Mr. Magpie"), coisa de quem sabe muito bem como usar a música eletrônica a seu favor.
O interessante é que, apesar de o ritmo ser um dos elementos essenciais do disco, ele nunca funcionaria numa pista. Isso provavelmente acontece porque os loops de bateria (eletrônica ou não), apesar de estarem por todo o canto, não chegam a ser tão consistentes ao ponto de serem “dançáveis”. Mesmo o primeiro single, "Lotus Flower", em que o vocalista Thom Yorke aparece dançando descontroladamente no clipe, não mostra tanto potencial para pistas quanto teve, por exemplo, "15 steps", de In Rainbows.
O álbum soa como um aprofundamento de recursos técnico-criativos explorados pela banda em muitas outras fases e discos, uma progressão natural do trabalho do Radiohead. As canções sem refrão, os timbres sintéticos e a sobreposição de “camadas musicais” sempre existiram no grupo britânico, afinal, em maior ou menor grau. A maneira como a banda manipula esses recursos também sempre foi surpreendente e sempre esteve lá (basta escutar o álbum Amnesiac, de 2001). Essa característica também aparece em algumas faixas de Kid A (2000) e até mesmo em OK Computer (1997) - a faixa "Climbing Up the Walls" já apresentava isso, de leve.
The King of Limbs é, sim, um disco difícil, mas importante nesses tempos em que a arte tornou-se um bem de consumo quase descartável. O Radiohead preza por uma percepção mais aguçada daquilo que estamos vendo, ouvindo e sentindo, e é justamente essa autoconsciência que faz falta em outros trabalhos que estão sendo lançados atualmente.
Falar do álbum música a música não faria tanto sentido, já que a obra tem uma característica tão linear. Os sons sintetizados sobrepõem-se a tudo, em oposição às guitarras e timbres mais "vintage" do álbum anterior, In Rainbows (2007). Em The King of Limbs há muitas dobras de voz com guitarra e sinths, harmonias quase estáticas e pouquíssimos acordes. Quando as guitarras e a bateria aparecem mais nitidamente é quase como se reproduzissem a função dos samplers (a exemplo da faixa "Morning Mr. Magpie"), coisa de quem sabe muito bem como usar a música eletrônica a seu favor.
O interessante é que, apesar de o ritmo ser um dos elementos essenciais do disco, ele nunca funcionaria numa pista. Isso provavelmente acontece porque os loops de bateria (eletrônica ou não), apesar de estarem por todo o canto, não chegam a ser tão consistentes ao ponto de serem “dançáveis”. Mesmo o primeiro single, "Lotus Flower", em que o vocalista Thom Yorke aparece dançando descontroladamente no clipe, não mostra tanto potencial para pistas quanto teve, por exemplo, "15 steps", de In Rainbows.
O álbum soa como um aprofundamento de recursos técnico-criativos explorados pela banda em muitas outras fases e discos, uma progressão natural do trabalho do Radiohead. As canções sem refrão, os timbres sintéticos e a sobreposição de “camadas musicais” sempre existiram no grupo britânico, afinal, em maior ou menor grau. A maneira como a banda manipula esses recursos também sempre foi surpreendente e sempre esteve lá (basta escutar o álbum Amnesiac, de 2001). Essa característica também aparece em algumas faixas de Kid A (2000) e até mesmo em OK Computer (1997) - a faixa "Climbing Up the Walls" já apresentava isso, de leve.
The King of Limbs é, sim, um disco difícil, mas importante nesses tempos em que a arte tornou-se um bem de consumo quase descartável. O Radiohead preza por uma percepção mais aguçada daquilo que estamos vendo, ouvindo e sentindo, e é justamente essa autoconsciência que faz falta em outros trabalhos que estão sendo lançados atualmente.
Texto por Pedro Keiner, do Ometele.
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