EDITORIAL: você tem fome de quê?


Entre a morte de Amy Winehouse [foi-se mais um grande talento que fazia jus ao nome Winehouse="Casa do Vinho" em tradução literal], a tomada de mais um país árabe [Síria] pelos EUA e mais um entre milhares de escândalos na nossa República de Bananas, nossas vidas seguem. Acredito, assim como eu, muitos de nós não cumpriram suas promessas de fim de ano reforçadas pelo sentimento de culpa ao parar-mos para pensar, e confirmar o óbvio: não nos esforçamos para mudar. Demagogia? Hipocrisia? Não me arrisco a rotular nada mais hoje em dia. Tudo está em constante mutação incluindo nossas vidas: os anos vão passando, bens materiais vem chegando através do trabalho, casamento, filhos, etc.

Porém, se nossas vidas estão sempre em constante mutação [pelo menos é o que o Sistema* nos faz acreditar] o mundo segue sua linha de destruição, material, espiritual e intelectual. Enquanto acreditarmos que galguar posições sociais e enriquecer é o objeto-fim de nossas vidas, continuaremos presos a esse mundo imposto a nós desde que o homem passou a amar as coisas e usar as pessoas.

A prova maior de que nos amamos mais as coisas do que as pessoas está nessas promessas de final de ano. Algumas das mais comuns que ouvi transitam em torno de temas relacionados à família [passarei mais tempo com meus filhos/pais], a religião [praticarei mais minha fé]... Esses são apenas 2 exemplos de inúmeros exemplos. Isso sem considerar as promessas narcisistas/egocêntricas como a pessoa magra que promete a si mesmo se esforçar para perder peso ou o burguês que promete a si mesmo se empenhar mais nos negócios para comprar aquele hiate... Enquanto estamos em busca de nossas satisfações pessoais, as insatisfações coletivas se agravam resultando em violência, corrupção, fome e destruição dos valores morais.

Amy Winehouse foi um ícone para nossa nova geração; geração está moldada nos moldes capitalistas: sem amarras nem valores sociais, ignorantes políticos, sem passado, muito menos futuro. Amy, assim como os nossos jovens, viveu numa espiral frenética tão intenso que seus dias sopraram como meses e esses voaram como anos. Ela tinha fome de tudo [festas, diversão, amores, música], menos de viver. A nossa vida é algo muito raro para se resumir a subterfúgios terrenos.

Os norte-americanos e seus aliados, por sua vez, continuaram influenciando nossas vidinhas através de suas guerras. A crise que antes vinha batendo nas portas das grandes potências, agora já está sentada na sala de estar dos palacetes acarpetados, decorados com arte renascentista dos líderes mundiais [políticos e empresários]. Para mantê-la entretida na sala, os ricos resolvem patrocinar a invasão da Líbia através de uma "revolução" intermediada pela CIA e FBI visando sugar o petróleo e minério. O resultado se deu agora, nesta última, quando Muamar Kadafi sumiu do mapa e a capital do país foi tomada pelos "rebeldes" [homens manipulados pelos norte-americanos]. O Estado opressor nunca sacia sua fome de auto-afirmação perante os povos. Eles têm fome de morte. Eles tem fome de poder.

Já nossa primeira presidenta eleita, Dilma Roussef, enfrenta a fome por dinheiro de nossos burgueses viciados em roubar, enriquecer ilicitamente, a qualquer custo e sempre em detrimento dos menos favorecidos, dos pobres. Eles são sádicos e nos, o povo, somos masoquistas, pois mantemos quem nos f*** no poder, além de não cobrarmos dos representates eleitos e das autoridades institucionalizadas a devida fiscalização e cumprimento das leis, sem falar na falta de mobilização social para exigir mudanças nas leis que depreciam o bem estar da coletividade em favor da ínfima minoria que governa este pardieiro que chamamos de Brasil.

A fome de Amy não prejudicou ninguém além dela mesma. A fome dos norte-americanos devora milhares de vidas nos embates que eles criam para satisfazer seu estilo de vida cheio de luxo, contudo vazio de ideologia, apenas a idéia de dominar e ser o "primeiro" já basta. A fome de quem nos governa é resumida as simples cédulas de dinheiro. Aqui não se preucupa-se nem em ser o primeiro. Aqui vale ser o último, contudo que pague-se bem. A fome de fraternidade, igualdade e liberdade, máxima iluminista sobre foi erguido a maioria dos países republicanos, não passa de um mero escopo do passado. A fome do povo de buscar sempre mais e mais, se espelhando nos burgueses que ostentam seu poder atravez do dinheito e poder, fez com que sentimos fome de justiça, liberdade, igualdade, fraternidade e amor entre os próximos; porém já corremos o risco dessa fome não poder mais ser saciada. Por isso, alimente sua fome de arte, de livros, de boa música, de política; busque inspiração para fazer sua parte e não ser apenas mais um na multidão. Pense rápido: você tem fome de que? Mais um ano se aproxima do fim... E mais uma vez saciaremos apenas a nossa fome de promessas?

Agosto, 2011


Walter A.
@walter_blogTM / wjr_stoner@hotmail.com


*Quando digo Sistema, me refiro a junção virtual dos sistemas políticos, financeiros, jurídicos e sociais a que estamos submetidos.

"A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte..."

Comida - Titãs

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