Filme: Bastardos Inglórios

Bastardos Inglórios
Direção de Quentin Tarantino
Guerra/Drama, 2009.


Quando se fala em produções de diretores renomados, a obra é apenas um caminho para chegarmos ao autor em si. Ao vermos um novo filme de Tim Burton, por exemplo, observa-se a linguagem, a forma e a temática da obra para compararmos às outras produções do diretor. É assim no cinema, na música, na literatura e em todos os segmentos artísticos. Nas telonas o ano de 2009 foi promissor nesse sentido, grandes diretores jogaram novas obras no circuito, entre eles Quentin Tarantino com o seu Bastardos Inglórios (2009).

Seguindo a mesma linha de outros filmes, Bastardos Inglórios é uma fábula que tem a violência em seu cerne. Um grupo de judeu-americanos, os bastardos, se reúnem em pleno auge do terceiro reich para exterminar nazistas. Liderados pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt), o grupo desembarca na França ocupada pelo exército nazista com uma missão: arrancar, cada um, 100 escalpos nazistas.

Paralelamente a essa missão, os bastardos integram uma ação chamada Operação Kino que tem por objetivo explodir um cinema em um lançamento de um filme nazista. A ousada estratégia foi proposta por uma famosa atriz inglesa muito bem familiarizada com o alto escalão do exército alemão.

Porém, ao mesmo tempo, outro plano de execução aos nazistas é bolado para a mesma noite. Shoshana é uma judia francesa que viu seus pais mortos após uma busca realizada pelo “caçador de judeus”, Coronel Hans Landa, a uma pequena casa na zona rural francesa onde moravam escondidos. Após fugir do atentado, Shosshana, agora com outro nome, herda um cinema, o escolhido para ser o do lançamento do mais novo trabalho do cinema nazista. A meta de Shoshana, que fica enojada por estar realizando uma festa para aqueles que mataram sua família, é atear fogo no cinema com todos os principais nazistas dentro, entre eles Hitler.

Como se vê, é em cima da grande noite que o filme se move, unindo as duas missões que, ao fim, se ajudam no grande objetivo. A ideia de Tarantino é genial. Se por alguns é rotulado de violento, ele resolve o problema mostrando que a violência, além de ser um recurso para sua linguagem, pode ser também, uma forma de protesto e até de união dos sentimentos humanos. Afinal, quem não se deliciaria ao ver Hitler e toda a sua corja metralhados sem piedade? A violência catártica funciona como um silenciar às críticas dirigidas a ele nesse sentido.

Mas a violência, apesar do enredo que a visa, não é tão presente nessa obra. Ela se mistura com momentos de tensão e de conflitos dialogais dos personagens. E são nos diálogos que ocorrem as maiores mudanças em relação aos outros trabalhos. Justamente por visar a criação dessa tensão, principalmente nas cenas com Coronel Landa – a cena inicial é ótima-, perdeu-se muito das conversas divagantes que vemos nos outros filmes de Tarantino. Papos sobre assuntos aparentemente divergentes, sobre astros, curiosidades...

Outra modificação, alguns chamam de amadurecimento, foi no abuso do silêncio entre os personagens. As sensações são provocadas apenas pelos gestos, olhares e expressões dos personagens.

As referências à cultura pop também se mostraram ausentes, apesar do diretor elencar uma enorme lista de diretores alemães e de mostrar ser um conhecedor de cinema europeu. Mas não avança muito além daí. Diferentemente de outros filmes seus, como Cães de Aluguel em que há uma discussão sobre o tema de Like a virgen; ou da cultura das vidas na estrada, mostrada no desconhecido À prova de morte.

Um dos elementos mais marcantes da filmografia do diretor também resolveu se ausentar. A trilha sonora que marcou Pulp Fiction e Kill Bill foi pouco, ou mal trabalhada nessa nova obra. Apenas alguns riffs de guitarra que ocasionalmente ocorrem chega a resgatar outros trabalhos na qualidade, nada mais.

Mas apesar de todos os poréns, Bastardos Inglórios é um filme bom, nada de extraordinário, mas um bom entretenimento que foge aos modelos dos clássicos filmes de guerra – nesse ponto Tarantino volta a ser ele, ele é original. Esqueça os corriqueiros tanques, as constantes bombas e consequente explosões, as únicas armas vem do próprio ser humano, afinal, os que de fato fazem as guerras.

Por Estêvam dos Anjos.

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