EDITORIAL: a grande geração perdida

Nos últimos meses as minhas postagens diminuíram inegavelmente. O motivo foi de ordem laboral, meu tempo realmente ficou curto. Voltei a escrever regularmente há 3 meses e os editoriais seguiram-se longos e de um teor que agradava a poucos; sempre tecendo comentários sobre economia global, corrupção e críticas sociais, durante esse mês me vi "matutando com meus botões" sobre o que falar no editorial de junho: não queria mais falar sobre geopolítica ao apontar fatores de nossa degradação humana-social.

Poderia comentar sobre os fatos que dão base a minhas teses loucas que exponho aqui como por exemplo, os protestos ebulidos na Grécia e sua crise econômica que se arrasta por anos; o desdobramento da crise grega em território espanhol; o vulcão chileno que despertou de seu sono profundo ou ate mesmo o projeto de lei que legaliza a corrupção e desvios de verbas que oferece em seu bojo a prerrogativa para os governantes não prestarem mais contas do que gastam usando como desculpa a proximidade da Copa do Mundo em terra brasilis...

Assuntos acerca dos homens detentores do poder que ditam nossa cultura, opinião etc. não faltam. Porém até eu mesmo já saturei de comentar os atos egoístas e pedantes desses senhores neo-feudais. Como nenhuma idéia palpável vinha a mente, resolvi sair de casa pra observar as pessoas e a cidade com a esperança de que eu voltaria com a idéia central do texto na mente. Parei na principal avenida da cidade e comecei a bater papo com alguns conhecidos. Meia hora bastou para que a idéia do texto se formasse. Esse foi o tempo necessário para chegar a seguinte conclusão: a geração nascida durante o final da década de 80 e meados da de 90, está em sua maioria toda perdida, sem rumo, desesperançada e extremamente niilista.

A quem evoque a geração hippie para fazer um contra-peso a minha idéia. Porém a geração hippie, mesmo com seus atos tão inovadores quanto incosequentes, era uma geração intelectualizada: a geração hippie hoje comanda o mundo, estão nas gerências, gabinetes do judiciário, nos parlatórios políticos de todo o mundo. A geração que nasce no final dos anos 70 até meados da década de 80 [essa é a minha geração] são os filhos da geração hippie e já demonstrava sinais de descompaso com as necessidades sociais e culturais de nossa época, porém essa geração ainda produz muita coisa positiva, contribuindo para a cultura, política, música, etc.

Porém, nesses dias que passam a toda velocidade por nossa percepção,aquela velha história de que "as crianças são o futuro do país" não cola mais a não ser pra quem continua tentando tapar o sol com uma peneira. A cultura em que essa nova geração foi inserida é totalmente descartável, sem bases sociais, feita apenas para divertir da forma mais incipiente e medíocre possível. Se antes tinhamos os punks [politizados e anarquistas], hoje temos os emos [ignorantes políticos e "sensíveis"]. kkkkkkkkk...

Enquanto a geração de nossos pais foi forjada em meio a livros e trabalho, a nossa geração foi forjada a base de livros, TV, arte, internet [em sua época de ouro] e trabalho; já a geração subsequente foi forjada sem livros, com excesso deTV, sem trabalho, com arte de baixo calão sem falar na mediocridade da internet de hoje em dia. Quem criou essa geração foi a TV. Os pais eram apenas babás. Crescer assistindo novelas, programas de auditório, programa de fofoca de famosos, twitter, facebook, orkut etc. desviam todo o intelecto das crianças para coisas de uma futilidade absurda.

A escola, antes um local de aprendizado e interação social sadia, hoje se compara a grandes clubes de diversões, onde os professores sofrem nas mãos de alunos mimados e briguentos [antes era soco e pontapés; hoje são disparados tiros e golpes de faca]. Não é difícil perceber, na maioria das vezes, toda a cumplicidade dos pais que sempre cobram do professor e da instituição de ensino a "melhor educação" e esquecem de cobrar de si mesmos. É comum no final do ano letivo, os pais fazerem de tudo para que o filho não repita o ano, colocando a culpa no professor, na escola, mesmo sendo clara a inaptidão da criança em subir de série.

Crianças de 11, 12 anos assaltam, matam friamente. O Estado não oferece a educação e cultura necessária e usa de subterfúgios baratos para entreter e fingir que ajuda a educar nossas crianças. A família, inserida no atual contexto pan-cultural em que vivemos, perdeu muito de sua força coercitiva para educar de forma satisfatória nossas crianças e jovens. Tudo bem, eu sei que esses fatos não são privilégios dessa nova geração, porém, a proporção de jovens infratores hoje em dia é muito superior comparado a décadas passadas.

Hoje estamos colhendo o que plantamos no passado. Este sofisma é uma verdade universal. Nossos avós e pais tiveram a liberdade tolhida pela repressão militar; nós, nascemos respirando o ar da liberdade que nossos antepassados não sentiram, e talvez por isso essa mesma liberdade tenha nos enebriados e acabamos por confundi-la com permissividade. Isso acabou com a geração pós-democracia... Após a juventude "transviada" das décadas de 60 e 70 surgiu uma grande geração de profissionais/técnicos que impulsionaram como nunca a tecnologia e acabaram influenciando a cultura como um todo; após a juventude "folgada" que admirou os novos raios de liberdade, mais seres pensantes contribuiram com a evolução das ciências sociais. Então o que virá depois dessa juventude fã de Justin Bieber, funk carioca, fãs de BBB, leitores de Bruna Surfistinha? O Senhor Tempo dirá. Já falei demais.

Junho, 2011.


Walter A.
wjr_stoner@hotmail.com / @walter_blogTM

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