Gente que se acha: o estranho caso dos desinformados cheios de confiança*



*texto retirado do Blog do Dan Josua - https://danjosua.blogosfera.uol.com.br/2018/05/10/gente-que-se-acha-mas-nao-deveria-o-efeito-dunning-kruger/


Na década de 1990, um assaltante entrou em um banco nos Estados Unidos mostrando o rosto e, sem hesitar, sorriu para todas as câmeras de enquanto roubava a instituição. Algumas horas depois, ele se mostrou surpreso quando a polícia invadiu a sua casa para prende-lo. Ele havia passado limão do rosto - e tinha ouvida falar que a fruta deixava uma tinta invisível. Assim, não conseguia entender como a polícia o identificou tão facilmente.

Após diversos laudos de especialistas, o ladrão foi considerado uma pessoa de inteligencia normal. Ele também não estava em nenhum tipo de surto psicótico. O único problema, segundo especialistas, é que avaliou muito mal a sua própria capacidade.


Uma dupla de psicólogos americanos [Dunning e Kruger], começou a se perguntar se aquilo não poderia ser uma tendencia mais universal do que um ladrão isolado no meio do país. Será que quanto menos informação uma pessoa tem, mais provável é que ela vá superestimar o seu conhecimento? 

Todos nós já nos aproximamos dessa ideia. Lembra daquele colega de sala, o Pedro, que mesmo depois de tirar nota vermelha nas três últimas provas de Química, saia confiante do exame final? "Estava fácil", parecia pensar enquanto caminhava pelo corredor. Confiante, conversava com amigos e não pestanejava quando via que boa parte das suas respostas não conferiam com as dos colegas. No dia que o professor entregava a prova, ele era pego completamente de surpresa pela nota baixa estampada na primeira folha.  Para Pedro, a nota vermelha não fazia o menor sentido.



Mas o problema não é só dos Pedros da vida. Todos nós estamos sujeitos ao mesmo mecanismo. Por exemplo, e responda com sinceridade: você é um motorista melhor do que a média? Se os leitores desse blog obedecem ao padrão do mundo, 80% de vocês responderam que são superiores que a média. Uma impossibilidade estatística...

Os dois exemplos (Pedro e nossa autoavaliação enquanto motoristas) são facetas de um interessante fenômeno chamado de efeito Dunning-Kruger. Em outras palavras, a tendencia das pessoas que dominam pouco um determinado assunto de superestimarem seus próprio conhecimento. Seres humanos tem uma tendencia de se colocar acima da média, especialmente quando não dominam profundamente um tema específico. 

E o que é mais estranho ainda, grandes especialistas (e ótimos alunos) , tem, a tendencia contrária. Lembra daquele colega que sempre saia preocupado das provas, mas se saia muito bem no final das contas? a preocupação dele é tão previsível, do ponto de vista da psicologia, quanto a autoconfiança indevida de Pedro. A dúvida, e não a certeza, é a marca da inteligencia.

E assim caminha a humanidade: repleta da desinformados cheios de confiança e pessoas inteligentes que duvidam de si mesmas.   

Da próxima vez que voce topar com um guru, um candidato político ou quem for gritando, cheio de segurança, que o mundo é simples e que ele o entende, suspeite: essa é a marca da ignorância. Esse cara é só mais uma vítima do efeito Dunning-Kruger.
 

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